quinta-feira, 3 de setembro de 2009

PROTOCOLO 2

Começamos a aula lendo o protocolo da Dani acerca da primeira aula da terça feira matutina, protocolo que relatou com preciosidade a primeira aula desse segmento do curso de Direção III na Universidade de São Paulo. Uma discussão sobre a importância da documentação foi iniciada depois da leitura do protocolo, a documentação que está ligada a questão do registro, que por sua vez está ligado ao processo histórico. Logo, algo que parece simples, mas que está relacionado com o processo de construção de uma memória coletiva, um registro do mundo.

E como foi levantado em aula, o registro (ou pelo menos um tipo dele) é a documentação da escuta, as pessoas hoje em dia são muito expressivas e pouco auditivas. Na verdade recebem com pouco caso aquilo que lhe são dadas.

“O que eu faço- assisto (...) Talvez seja isso. A única coisa que eu fiz todo o tempo foi assistir pessoas. Eu tenho apenas visto relações humanas, ou tentando vê-las e falar sobre elas. É nisso que eu estou interessada. Não conheço nada mais importante.”[1]

PINA BAUSCH

A capacidade de escuta está ligada a não somente à capacidade de visão, mas com qualquer tipo de recepção, como você lida com a matéria que você recebe, poética concreta ou abstrata. Escutar é um ato de generosidade assim como registrar, como você recebe as informações, como você lê? Já interpretando ou lendo para depois interpretar, esse processo está intimamente ligado a experiência adquirida durante o processo, seja ele teatral ou não.

Sobre a postura dos diretores nas discussões das cenas, Bulhões nos questionou sobre como estamos lidando com o processo, principalmente nas discussões em sala de aula, a atitude de jogo que esse processo nos pede. Como eu falo sobre o próprio processo diante minha equipe e meus professores. E o posicionamento em sala de aula está ligado as discussões de ensaio, encontramos desde pessoas que falam muito e se posicionam de diversas formas até aqueles que nunca falam durante as discussões. Procedimentos como dar 5 minutos para cada um da equipe falar ou “a partilha” foram mencionados como meio de dar voz a todos, mesmo que esse obrigue o mais tímido a se posicionar e o mais “expressivo” a falar menos.

Aos poucos o ambiente em que uma pessoa pode se posicionar vai sendo construído, principalmente em processos que a equipe não se conhece de outros trabalhos. Tchello falou de sua dúvida em como proceder com as discussões, porque ao mesmo tempo em seus atores podendo falar livremente e opcionalmente, contribuem muito nos ensaios ele tem receio de um procedimento “voz a todos” no qual esse dialogo direto entre os participantes pode limar uma possível discussão verticalizada. Mas eu creio que esses procedimentos de democratização da fala cobram de maneira inteligente um posicionamento do ator tímido.

A verdade é que o homem é sempre o homem de um clã, de uma comunidade. As categorias família, amizade, vizinhança, antes de serem tipos da comunidade para Tönnies, são, para Hume, determinações naturais da simpatia. Justamente, porque a essência da paixão, porque a essência do interesse particular não é o egoísmo, mas a parcialidade, é que a simpatia, por sua vez, não ultrapassa o interesse particular e nem a paixão. “Nosso sentido do dever segue sempre o curso habitual e natural de nossas paixões”. Vamos até o fim, com o risco de, aparentemente, perder o benefício de nossa distinção do egoísmo e da simpatia: esta não deixa de opor-se à sociedade tanto quanto aquele.”[2]

GILLES DELEUZE em “Empirismo e Subjetividade: ensaio sobre a natureza humana segundo Hume”.

Outro ponto levantado nas discussões foi sobre a capacidade de aglutinação de pessoas que o diretor tem, e como provocar o tesão – paixão - no grupo? Talvez pela simpatia e pelo carisma como disse o Bulhões em sala de aula, uma figura carismática que consegue unir sua equipe, parece magia quando na verdade é postura e disponibilidade. E quando eu falo simpático ou carismático não estou falando de pessoas sorridentes que atraem as outras como imãs, mas da mínima atração entre essas pessoas que faz desse encontro uma explosão criativa, obviamente que essa frase soa mais bonita que a realidade em si e eu to já estou c****** regra no protocolo...

“É muito importante, é fantástico para as pessoas usarem a festa do movimento (na vida diária). É necessário usar todas as energias da vida. As vezes nós recebemos muita pressão e para onde ela vai? Ou nós fazemos algo de positivo, ou nem tanto, com esta energia, ou nós simplesmente não sabemos o que fazer com ela. Mas isto é algo que deve acontecer em grupo, porque as pessoas encontram-se, comunicam-se.”

PINA BAUSCH

Pego a citação de Pina pra relacionar com o jogo, que o processo colaborativo pode ser conduzido como um jogo, e apesar das muitas formas que esse jogo possa tomar, o objetivo é parecido; encontrar algo em comum do que eu quero falar com essas pessoas, o que envolve muita negociação, convencimento e desapego mas como não estamos em uma mesa-redonda e a discussão não deve ser teórica (apenas) e que tudo isso se transforme em material cênico, pra daí a gente discutir o que estamos fazendo. Enfim, tentemos encontrar o foco onde usar nossa energia e nos movimentar de fato, e com o grupo encontrar anseios, vontades e um possível recorte, ai!

Por fim, discutimos sobre as improvisações e a pratica cênica nesse início de processo, primeiro, como conduzir um aquecimento que leve para essas improvisações sem perder tempo com o desnecessário, encontrar o foco do ensaio e pensar sua condução. O aquecimento pode ser lúdico e já antever um estado de cena procurado, uma ambientalização do espaço até, e não ser apenas um alongamento e uma corrida pelo espaço aleatória.

Bulhões problematizou a questão da linguagem da improvisação, como se propõe algo que permite uma construção que vai além da mimesis, do cinema ao vivo. Como estimular criação a partir de outras linguagens, de outras formas não tão recorrentes como a imitação da realidade? Como envolver o ator criador em proposição de cenas para além do corpo dele? Fazê-los experimentar a direção e a dramaturgia, colaborar com textos, empenhar para além do atuar, sentir o processo colaborativo. Desde proposições de workshops nos quais os atores trazem cenas que eles produziram ou estimular a criação de roteiros cênicos planejados para o ensaio. E como provocar o tesão em toda equipe, como envolver o sonoplasta e o iluminador na proposição cênica?

PROPOSIÇÕES ARQUIVADAS

Discussão no ensaio.

  • Dar cinco minutos pra cada participante falar sobre o ensaio, incitando os tímidos a falarem e tirando um pouco o tempo dos “expressivos”.
  • A partilha; pegar um pequeno cetro (ou qualquer outro objeto) e instituir que só pega aquele objeto quem tem algo que é muito, mas muito importante a ser dito no ensaio, algo que seja essencial para que todos ali naquela roda escutem. Quem concordar com o que foi dito grita “Ho”.

Procedimento de Protocolo

  • Decidir se é semanal ou diário, decidir as regras do grupo sobre como vai ser conduzido o registro.

Exercício Cênicos

  • Explorar formas; pedir improvisações da mesma cena só que com motes diferentes; realista, realista fantástico, abstrato, performance...
  • Explorar exercícios de improvisação desenvolvidos por outros encenadores como Augusto Boal e Anne Bogart (Viewpoints).

“Acho que cada pessoa tem de descobrir isso por si só. Não se pode dar conselhos. Cada um tem sua maneira de coreografar. Claro que é muito bonito ter uma riqueza variada de possibilidades, alguma coisa ligando as diferentes artes. Mas não sei dizer se é ou não a melhor forma, podem ser muitas coisas juntas em harmonia. Formar escolas é perigoso, porque breca a fantasia. Me parece importante que as pessoas mudem os momentos de suas vidas. O sentimento sobre o que está acontecendo no mundo é sempre um novo momento” PINA BAUSCH.

Também não acredito em regras, mas acredito na troca de conhecimento.

“Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera”. CECILIA MEIRELES, Primavera.



Spring affair – donna summer

Ooh, something's coming over me

ooh, I think it's got a hold on me, it's got me, it's got me

Ooh, just the man I hoped you'd be

Ooh, just the man to set me free, you got me, you got me

you got me, you got me

Spring affair, spring affair, spring affair

and I'm hung on you

Spring affair, spring affair, spring affair

and we've got something new, me and you, oh baby

Ooh, guess I'm falling much too fast

Ooh, I hope this love is gonna last, I've fallen

Ooh, the feeling's getting really strong

Ooh, gives me strength to carry on, I've fallen, I've fallen

Spring affair, spring affair, spring affair

and I'm hung up on you

Spring affair, spring affair, spring affair

and we've got something new

It's a spring affair

it's a spring affair

oooh, ooh, ooh

Spring affair, spring affair, spring affair

and I'm hung up on you

spring affair, spring affair, spring affair

and we've got something new

uuuh uhh aah,.. oh yeah...

uuuh uhh aah,.. oh yeah...

Ooh, you're the sunshine in my life

Ooh, how you come on shining bright, you got me

Ooh, feeling's gonna grow and grow

Ooh, let your loving river flow, you got me, you got all of me

Spring affair, spring affair, spring affair

and I'm hung up on you

spring affair, spring affair, spring affair

and we've got something new

spring affair, spring affair, spring affair

and we've got something new

It's a spring affair

It's a spring affair

Spring affair

give strength to carry on

spring affair...

Protocolo dia 25 de Agosto de 2009.

Júlio Barga



[1] FERNANDES, CIANE. Pina Bausch e o Wuppertal Dança-Teatro: Repetição e transformação. Annablume Editora, 2007. São Paulo.

[2] DELEUZE, Giles. Empirismo e subjetividade : ensaio sobre a natureza humana segundo Hume. São Paulo: Editora 34, 2001.

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