segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Primeiras Impressões

Como ouvinte da aula e dos processos de direção3, as questões que ficaram mais evidentes para mim, no primeiro e último encontro o qual participei, foi o ponto de discussão a cerca das opções de investigação e de linguagem de cada diretor. Durante a discussão Bulhões, inúmeras vezes questionou os alunos sobre o que eles pretendiam investigar na direção 3, para a partir desse ponto construírem junto com os dramaturgos um argumento para as propostas de encenação. Pensando sobre o que os diretores pretendiam me questionei sobre o que eu queria com o teatro, o que me moveria a investigar e sobre isso encontrei na fala de Grotowski uma possibilidade:


Não me interessa o teatro da palavra porque é baseado em uma falsa visão da existência humana. Não me interessa também o teatro físico. Porque o que quer dizer? Acrobacias em cena? Gritos? Rolar no chão? Prepotência? Nem o teatro da palavra e nem o teatro físico – nem o teatro, mas a existência viva no seu revelar-se.*


Ao refletir sobre a fala de Grotowski, me vieram várias perguntas sobre o que vale a pena investigar, o que realmente vale a pena a ponto de nos movermos em direção a isso. O teatro possui inúmeros gêneros que de certa forma foram repostas a algumas questões que moveram os homens, mas talvez o mais precioso fosse buscar as perguntas, ou melhor, traduzir em cena as nossas experiências e com isso as nossas dúvidas. Penso que o teatro tem uma função que nos diz respeito, pois fazemos teatro, mas e para os outros que é teatro? Tanto para os nossos colegas de cena, quanto para o público, o que o é teatro? O que os moveria a trabalhar conosco ou a irem nos assistir, a saírem de suas casas para isso? Por esses motivos andei pensando que em primeiro lugar devemos estar abertos a receber o outro estar disposto que o outro colabore e amplie, através de seus questionamentos, as nossas investigações artísticas, pois nós só existimos a partir do momento que somos percebidos pelo outro, por isso a gente precisa do outro. Sendo assim uma investigação solitária não nos serve, pois ela será estéril, ela só vai se completar no outro. Para que isso aconteça precisamos, como diz Grotwski, investigar a existência viva no se revelar-se, pois o vivo está na troca com o outro, desde o início da investigação, me refiro aqui também ao outro colega de trabalho, que mais tarde vai ser de certa forma o público. Acho que a construção do argumento pode ser o início da troca, o início da existência viva, humana. Claro que isso soa um tanto poético, mas acredito que são as pequenas coisas que vão revelar mais tarde a grande descoberta. Para finalizar cito mais uma vez Grotowski:

Penso que, dentro de certos limites, estamos condenados a inquietação. Existem, no entanto, limites definidos de inquietação que podemos suportar. Se procuramos o modo de nos esconder atrás de fórmulas intelectuais, atrás de idéias, de slogans, ou seja, se mentimos a cada instante com maior refinamento, estamos condenados à infelicidade. Se tudo aquilo que queremos fazer é sempre apenas morno, sempre até um certo ponto, sempre “como os outros”, sempre com o fim de sermos aceitos, estamos condenados à infelicidade. Mas se – paradoxalmente – tendemos a uma direção diferente, a um certo nível se manifesta a calma.**

*GROTOWSKI,Jerzy. Resposta a Stanislavski. Nova York em 22 de fevereiro de 1969.
**Idem.



Kalisy Cabeda

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