terça-feira, 3 de novembro de 2009

Protocolo da aula on-line de 20 de outubro de 2009, por Tchello Gasparini

Esse é o protocolo de uma aula peculiar: a primeira aula de Direção Teatral on-line do mundo! Pelo menos, eu acredito que seja...
Muito bem, comecemos. Após muitos problemas de ordem técnica – problemas de conexão, skype, etc. – e um problema específico de comunicação – não há horário de verão em Maceió! – finalmente começamos nossa rápida reunião, com apenas quatro dos seis participantes presentes (os outros dois caíram na armadilha do horário de verão). Apesar de ter sido muito mais curta do que o habitual, com duração de menos de duas horas, creio que levantamos alguns pontos muito interessantes.
Ficamos muito tempo discutindo a questão dos dramaturgos dentro dos processos – como se não fizéssemos isso TODOS OS DIAS. A Dani colocou os problemas que tinha com seu dramaturgo, o que causou uma enxurrada de reclamações sobre os mesmos. Creio que seja um problema que todos nós passamos ou estamos passando. A figura do dramaturgo é complicada. Se não é por falta de material, é por excesso de palpite, mas parece que eles estão sempre dando problemas!
Arriscando aqui uma análise tosca sobre essa questão, tenho às vezes a impressão de que o dramaturgo, muitas vezes, se sente deslocado dentro do processo. Afinal de contas, ele não é o responsável pela concepção da obra, pela idéia original, mas é um participante da construção conjunta da mesma. Porém, tanto os dramaturgos com um pouco mais de experiência quanto os completamente novatos – digo assim porque tenho os dois casos no meu grupo – ainda encaram a sua função como célula mãe, como geradora do movimento. Talvez esteja viajando aqui, mas essa impressão se reforça quando os mesmos assumem o papel de dramaturgistas. Já ouvi coisas como ‘mas eu venho aqui pra ficar escrevendo o que os atores escrevem?’. Isso, para mim, me dá a impressão de que esses dramaturgos em formação não tiveram uma preparação para se lidar com processo colaborativo, como nós, diretores em formação, temos dentro desse departamento. Acho que ainda existe um receio dos dramaturgos, um medo de não serem necessários, de que a função deles ali não faz muito sentido. Eles ainda continuam com a idéia de escrever em suas ‘torres de marfim’, e encaram o dramaturgismo como função menor, de um simples ‘copista’.

(...) os espetáculos produzidos em processo colaborativo nascem de um projeto pessoal do diretor, que reúne a partir de então a equipe de que necessita para empreender a criação. Cabe perguntar se a poética do processo colaborativo vem conseguindo efetivamente negar o “ator-linha-de-montagem” (Araújo, 2002, p. 42), e transformá-lo em sujeito, se a função autor tem tido condições de se formar na prática daqueles que nomeiam colaborativo o processo que empreendem.

Voltando ao caso da Dani: o dramaturgo não entrega material, e quase sempre, encara o workshop dos atores como cenas prontas, que não precisam ser mexidas, que já devem fazer parte da obra da maneira que elas surgem. Isso pode soar como preguiça ou falta de interesse por parte dele, mas como levantamos esse ponto na aula, acho justo enxergarmos outro lado da questão. O Miguel tem um pé forte na licenciatura. Isso é claro em suas conversas, seu modo de se expressar e no tratamento dado às pessoas com as quais ele trabalha. O interesse do Miguel talvez seja mais o processo de aprendizado do que a obra em si, o que realmente o toca é observar e participar de um processo de criação e formação de indivíduos. Acho que, desde que vi a segunda cena do Miguel em direção I eu tive essa impressão. Portanto, ele tende a supervalorizar o material trazido pelos atores. É claro que eu estou tornando rasa a questão, e também não acho que isso justifique o fato de ele não estar trabalhando com o que foi proposto. Como sempre dizemos, processo colaborativo exige um estado constante de jogo, e todo jogo necessita de regras. As regras dadas à função ‘dramaturgia’ devem ser cumpridas, e isso inclui papel, caneta, computador, máquina de escrever, etc.
Como sugestões de procedimento, Bulhões recomendou algumas coisinhas que podem ajudar na lida com o material dramatúrgico e com o(s) próprio(s) dramaturgos.
Em primeiro lugar, que se deixe claro para todos os membros do grupo o cronograma de ensaios. O que será trabalhado, quais cenas em tal dia, etc. Recomendou que esse roteiro seja combinado semanalmente, fechado e passado a todos os integrantes do grupo. Tendo isso feito, combina-se com o dramaturgo uma data semanal de entrega de versões provisórias do roteiro. Como exigência, o roteiro deve ser entregue por completo, mesmo que não esteja tudo criado. Mesmo que o dramaturgo descreva uma idéia primária de cena no papel, isso deve ser entregue como obra completa toda semana para toda a equipe.
Aproveitando a ‘vibe’ cibernética, Bulhões também sugeriu o que ele chamou de ‘roteiro compartilhado’. Seriam essas mesmas versões do roteiro, colocadas na internet, disponíveis para a equipe por e-mail ou por site, por blogs. Essas versões podem ser modificadas por qualquer membro da equipe, e depois as modificações voltariam à Mao do dramaturgo, que faria uma nova versão a partir disso, etc.
Quanto às cenas improvisadas – que muitos de nós temos em cena - surgiu também uma sugestão de escritura de roteiro para os dramaturgos. O texto seria escrito em duas colunas; na primeira, uma espécie de canovaccio, um roteiro de improvisos. Na segunda coluna, frases ‘de efeito’ que o dramaturgo pode colocar a partir das improvisações dos atores. Sugeriu-se também a possibilidade de se filmar os processos, com a finalidade de auxiliar a equipe a relembrar o que foi feito no ensaio anterior.


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O que você anda vendo/assistindo/lendo/...?
Vou tentar responder agora, e mostrar algumas coisas a vocês:
OUVINDO:
• Naked City
• Orquestra Mediterrânea
• Natural Born Killers OST
VENDO:
• Anticristo
• Natural Born Killers
• Monthy Phyton
• Cartier-Bresson
• Dave McKean
LENDO:
• Sandman, Gaiman
• Monstro do pântano, Moore
• Alice no País das Maravilhas, Carroll
• In nomine Dei, Saramago
• Contos extraordinários, Allan Poe


Agora, antes de encerrar esse protocolo, gostaria de pedir ao Bulhões que explicasse melhor esse modelo de dramaturgia por justaposição, do livro Gerald Thomas em cena, que foi citado durante a aula, e que não tive tempo de ler sobre.

Muchas gracias.

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