Tudo o que eu tinha eram livros e mais livros e mais livros e atrizes e um músico e um dramartugo. Ai meu deus, o que eu faço com essa gente? Premissa básica: eles não querem nem saber de teoria, nem de ler, querem cena, e cena, e cena. Ai meu deus, o que eu faço com essa gente?
Quatro horas de conversa.
Vazia? Não, mas talvez... como começo? do começo? Qual é o começo de uma coisa que eu tenho que inventar por conta própria? Um ator está doente. Gripe suína? Tomara que não, ou estaremos todos fodidos. Porque, diabos, você não pode vir nos dois ensaios?
"Eu fico incomodada em vir em dois ensaios e ela só vir em um."
Eu também. Mas eu digo? O que eu falo? O que eu escondo? Abro o jogo até que ponto? Porque, diabos, a gente tem que fazer um recorte já? Os atores não querem saber de recorte. Os atores não querem saber de escolher. Os atores não querem saber de nada disso, de nada que, por ventura, pareça consciente. Eles querem se jogar do abismo. Eles vão me jogar no abismo.
Dói? Vai doer ainda mais? Quanta dor os atores vão suportar até dizerem "chega"? Qual é o limite de cada um deles? Qual é o meu limite?
Inspira, expira, relaxa.
Tudo vai dar certo. "Já vi que a gente vai brigar." "Não, tudo bem, brigar é bom." "É, desde que a gente não se mate..." "Toda unanimidade é burra." "A gente vota, é consenso ou o diretor escolhe?" "Acho que votar é opressor, prefiro que, se a gente não chegar a um consenso, o diretor escolha."
Temos, mesmo, que prever tudo agora? Nós somos capazes de prever o futuro? Ai, como eu queria prever todas as brigas...
Tudo bem, então pra resumir ficamos assim: a gente vai pra casa, cada um lê algumas coisas e a gente traz pro próximo ensaio um recorte do que gostaria que fosse, uma idéia e a gente vai escolher uma pra ser um exemplo. - Momento Atores Fazem Cara Feira, silêncio, pausa dramática - Ah, tudo bem.
Ai, como eu gosto desse momento de estar todo mundo no carro, indo juntos pra casa... parece até que a gente é um grupo.
"Tempestades virão."
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